sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Chega de frases feitas e canções intermináveis


Chega de frases feitas e de canções intermináveis. As lamentações são uma verdade muito fria que devemos encarar com um frenesi intenso demais para que cheguemos a desejá-la.
Uma falsa tristeza não nos proverá uma vida de riscos, nem palavras que saem da cabeça podem lhe dar uma terapia. Uma folha escrita não vende livros, mas várias podem sobrar; usar metáforas de sentido e sentimento duvidosos pode te levar a glória, mas uma hora ela se vai, enquanto uma frase sábia viverá eternamente mesmo que seu autor não o faça.
Por que esperar até o final de um texto para escrever uma frase de impacto? Seriam pelas mesmas razões que escrevemos coisas discutivelmente diferentes com estruturas iguais ou pela mesma razão a qual damos nomes a textos brilhantes? Afirmações nos dão inspiração para escrevermos cachoeiras de palavras.
Uma erupção de palavras rigorosamente escolhidas e improvisadas; um paradoxo de um pensamento urgente que não pode ser calado, mas não pode ser gritado, pois deve ser escrito.
Para aqueles que admiram incondicionalmente as novas modas e que repetem aquilo que já ouviram com fervor, que usam blusas de Che Guevara sem saber quem ele foi, que se gabam por saber o básico numa sociedade ignorante, pois nada sabe, e para os revoltosos que não conhecem as mil causas para tal: que essa escrita seja maçante, que as entrelinhas estejam em branco. Chega de frases feitas.

Qui Dort, Dîne


Não temas mais. A paz ainda não veio, mas não precisas sofrer por antecedência. Não corras para o abismo. Não afogues a si mesma nas lágrimas da dor e nunca, jamais percas o controle.

Hoje corres em direção ao frio, mas Deus sabe se amanhã não procurarás pelo calor do Sol. Hoje queres apenas silêncio e um momento de sabedoria, mas nunca tens o prazer de fazer a coisa certa. Sentes o mesmo? Sente-te podre por não ignorar teus próprios problemas e não sofrer, não sofreres agora, por aqueles que temem tão mais do que tu? Sentes o mesmo?

A tristeza se reflete dos calafrios que percorrem seqüencialmente o teu corpo. As lágrimas não demonstram mais nada. As lágrimas não existem. As lágrimas não são mais o suficiente.

Sentes um pouco perdido, muito. Sentes só e achas que essas falsas companhias são tão impertinentes e desnecessárias. Acreditas que a solidão real poderia ser melhor e desejas veemente que braços te envolvam sem dó por um instante de fragilidade.
Queres ouvir o silêncio e dançar a sua música. Queres que te entendam verdadeiramente. Queres andar sem rumo, sabendo que podes voltar para casa.
Para casa.

Eu procurei o amadurecimento no tempo de vida das pessoas. Eu procurei a cultura e o conhecimento na quantidade de dinheiro que elas tinham.
Eu me fartei de decepções e a única coisa que me restou foram os meus aprendizados. Ao menos eu tenho algo para me basear, para me pendurar em uma forca de sofrimento, de angustia e tentações suportadas em hipocrisia e pecado. Ao menos eu ainda sei escrever para me libertar um pouco, ou muito.
Eu queria entender de onde essas frases prontas que ouvimos são pensadas, porque às vezes elas não me convencem.
Eu procurei o consolo nas pessoas que me davam certeza de uma mentira. Mas uma mentira contada mil vezes, definitivamente não se torna verdade. Eu queria ouvir mais uma vez, mas a verdade sem exageros foi uma coisa muito boa. Abriu meus olhos para o que o meu subconsciente morria de sede e fome e o alimentou.
Convenceu a minha alma por pelo menos um instante do que eu tenho que fazer, das mentiras que eu devo parar de contar, dos risos falsos que eu devo parar de mostrar e da fortaleza enfraquecida a cada dia que eu devo PARAR de fingir. Eu fui muito massacrada pelas minhas próprias armações, e como um prédio, quando elas caíram sobre mim foi muito pior do que se eu tivesse me jogado.
Eu procurei respostas para as perguntas erradas e descobri que não há um tipo certo de pessoas com as quais eu possa me envolver e me ver em um espelho. Há pessoas que me abraçam com a verdade e me batem com a paz que eu posso sentir.
Elas traduzem a paz para mim e compreendem a minha sensibilidade, elas não viram minha abertura desengonçada e não forçaram o meu rosto contra a mentira. Elas me abriram as portas da realidade sem me lançar a suas ruas.
Essas pessoas estão sumindo. Elas devem estar perdidas, ou então se diluíram numa multidão comum.
Estas outras me viram, sorriram pelos meus problemas, não pela mediocridade destes, mas por sua ironia.
Não me disseram a verdade, não me disseram a mentira. Disseram-me o que me acharam melhor. Seguraram meu rosto em suas mãos e me disseram: Paciência.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Vida


Vida. Como podemos exigir tanto que as pessoas a compreendam se nem ao menos nós o fazemos? Os problemas. Não importa o quanto nós tentemos planejar e escrever nossas histórias, algo sempre mudará para que nós aprendamos. Nós não queremos isso, não temos que aceitar tanta dor porque disseram ter que ser assim.
Ninguém forma nossos destinos. Nem Deus. Nós escrevemos nossos passos, e borramos nossos tropeços. A vida não nos ensina isso. A vida sequer nos mostra.
Ela nos impõe sofrimento e dor para que nós lidemos com eles, a vida é a espectadora e nós somos os artistas. A platéia espera ansiosamente por nossos erros, mas nós não vamos deixá-la ter esse prazer. As lágrimas são mais do que as ilustrações de nossos sentimentos, elas sabem muito mais sobre nós do que nós mesmos.
Não as desperdicemos. Satisfaçamos a nossas almas e nossas mentes, porque ninguém o fará, e se temos que plantar flores em nossas almas, bem, que sejam das nossas cores preferidas, para que não haja espaço para arrependimentos.

Paz



Paz? Não há paz no silêncio que nos prende na sonolenta e aguda felicidade. Nós queremos, não mintas, queremos que sejamos amados e que o que escrevemos signifique, morra, viva, dure, seduza e salve. Esperamos o elogio da verdade e a súplica do reconhecimento nos sufoca; onde o amor próprio é a dádiva maior. Onde anjos e demônios perderam o pudor há décadas e dançam lado a lado uma dança sem fim e sem música.
Sem ritmo definido, estamos sós. Estamos encolhidos como ratos em casarões, onde o esgoto, o lar, nos parece tão distante, padecendo na própria podridão. Onde palavras não são nada mais do que música e sonhos nada mais são do que crônicas.
Quando a paz angustiante e inexistente nos faz olhar para trás e ver cinzas e medo, quando as cores ficam mais fortes, mais intensas e mais impiedosas; e tu, como um gêmeo, clona-te alegre e instintivamente ao teu irmão que ensinas a viver, a tua maneira. Quando os risos são ensurdecedoramente impuros e promíscuos e as palavras são escolhidas o bastante para não terem sentido.
Sente-te bem? Estás acostumado, castrado aos padrões do homem? Estás feliz por ser um morto livre?
Em um mundo neutro e sem iniciativa, nós nos juntamos à sociedade e nos tornamos mais um, sem rosto, sem mente e finalmente, sem paz.

Cidade


Chove... As paredes pichadas em contraste com a chuva, e o lixo do esgoto que transborda. O barulho dos pés batendo rápido na calçada, espalhando as gotas da água imunda. É uma praxe, uma lei.
Os cães molhados, os becos que nós não vemos. Uma realidade quase mundial o que está escrito naqueles grafites. A sujeira é poética. Esse bege, o marrom e o preto que nós temos nas cidades vão escorrendo com essa chuva.
Algumas músicas lembram essa realidade. Esses cemitérios sem vida e cada toco de cigarro que está embaixo de nossos pés. Cada natureza isolada por grades e cada pombo sem pata. Está tudo preso a um fio sem vida, é tudo uma armação muito pouco calculada e muito pesada. Cada grito da noite e cada assassinato.
Cada pó de droga e cada tiro dado para o alto. Cada estalo de fogos que não vemos e cada inferno que vivemos no dia. A chuva vem para acabar com isso. Revoltosa, tenta. Ela derruba e arranca. Mas a cidade é forte demais. Há sempre mais. É insatisfatório, cada vez mais. Alimente essas paredes... E esses olhos. Há vida demais aqui. Há tristeza demais aqui. Há tantas cores escuras e nenhuma luz. Aquela água limpa se torna podre ao tocar no nosso chão; e ela leva para um lugar infeliz tudo aquilo. Tudo aquilo. Chove... Há poesia nisso tudo?