segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Vida


Vida. Como podemos exigir tanto que as pessoas a compreendam se nem ao menos nós o fazemos? Os problemas. Não importa o quanto nós tentemos planejar e escrever nossas histórias, algo sempre mudará para que nós aprendamos. Nós não queremos isso, não temos que aceitar tanta dor porque disseram ter que ser assim.
Ninguém forma nossos destinos. Nem Deus. Nós escrevemos nossos passos, e borramos nossos tropeços. A vida não nos ensina isso. A vida sequer nos mostra.
Ela nos impõe sofrimento e dor para que nós lidemos com eles, a vida é a espectadora e nós somos os artistas. A platéia espera ansiosamente por nossos erros, mas nós não vamos deixá-la ter esse prazer. As lágrimas são mais do que as ilustrações de nossos sentimentos, elas sabem muito mais sobre nós do que nós mesmos.
Não as desperdicemos. Satisfaçamos a nossas almas e nossas mentes, porque ninguém o fará, e se temos que plantar flores em nossas almas, bem, que sejam das nossas cores preferidas, para que não haja espaço para arrependimentos.

Paz



Paz? Não há paz no silêncio que nos prende na sonolenta e aguda felicidade. Nós queremos, não mintas, queremos que sejamos amados e que o que escrevemos signifique, morra, viva, dure, seduza e salve. Esperamos o elogio da verdade e a súplica do reconhecimento nos sufoca; onde o amor próprio é a dádiva maior. Onde anjos e demônios perderam o pudor há décadas e dançam lado a lado uma dança sem fim e sem música.
Sem ritmo definido, estamos sós. Estamos encolhidos como ratos em casarões, onde o esgoto, o lar, nos parece tão distante, padecendo na própria podridão. Onde palavras não são nada mais do que música e sonhos nada mais são do que crônicas.
Quando a paz angustiante e inexistente nos faz olhar para trás e ver cinzas e medo, quando as cores ficam mais fortes, mais intensas e mais impiedosas; e tu, como um gêmeo, clona-te alegre e instintivamente ao teu irmão que ensinas a viver, a tua maneira. Quando os risos são ensurdecedoramente impuros e promíscuos e as palavras são escolhidas o bastante para não terem sentido.
Sente-te bem? Estás acostumado, castrado aos padrões do homem? Estás feliz por ser um morto livre?
Em um mundo neutro e sem iniciativa, nós nos juntamos à sociedade e nos tornamos mais um, sem rosto, sem mente e finalmente, sem paz.

Cidade


Chove... As paredes pichadas em contraste com a chuva, e o lixo do esgoto que transborda. O barulho dos pés batendo rápido na calçada, espalhando as gotas da água imunda. É uma praxe, uma lei.
Os cães molhados, os becos que nós não vemos. Uma realidade quase mundial o que está escrito naqueles grafites. A sujeira é poética. Esse bege, o marrom e o preto que nós temos nas cidades vão escorrendo com essa chuva.
Algumas músicas lembram essa realidade. Esses cemitérios sem vida e cada toco de cigarro que está embaixo de nossos pés. Cada natureza isolada por grades e cada pombo sem pata. Está tudo preso a um fio sem vida, é tudo uma armação muito pouco calculada e muito pesada. Cada grito da noite e cada assassinato.
Cada pó de droga e cada tiro dado para o alto. Cada estalo de fogos que não vemos e cada inferno que vivemos no dia. A chuva vem para acabar com isso. Revoltosa, tenta. Ela derruba e arranca. Mas a cidade é forte demais. Há sempre mais. É insatisfatório, cada vez mais. Alimente essas paredes... E esses olhos. Há vida demais aqui. Há tristeza demais aqui. Há tantas cores escuras e nenhuma luz. Aquela água limpa se torna podre ao tocar no nosso chão; e ela leva para um lugar infeliz tudo aquilo. Tudo aquilo. Chove... Há poesia nisso tudo?