segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Cidade


Chove... As paredes pichadas em contraste com a chuva, e o lixo do esgoto que transborda. O barulho dos pés batendo rápido na calçada, espalhando as gotas da água imunda. É uma praxe, uma lei.
Os cães molhados, os becos que nós não vemos. Uma realidade quase mundial o que está escrito naqueles grafites. A sujeira é poética. Esse bege, o marrom e o preto que nós temos nas cidades vão escorrendo com essa chuva.
Algumas músicas lembram essa realidade. Esses cemitérios sem vida e cada toco de cigarro que está embaixo de nossos pés. Cada natureza isolada por grades e cada pombo sem pata. Está tudo preso a um fio sem vida, é tudo uma armação muito pouco calculada e muito pesada. Cada grito da noite e cada assassinato.
Cada pó de droga e cada tiro dado para o alto. Cada estalo de fogos que não vemos e cada inferno que vivemos no dia. A chuva vem para acabar com isso. Revoltosa, tenta. Ela derruba e arranca. Mas a cidade é forte demais. Há sempre mais. É insatisfatório, cada vez mais. Alimente essas paredes... E esses olhos. Há vida demais aqui. Há tristeza demais aqui. Há tantas cores escuras e nenhuma luz. Aquela água limpa se torna podre ao tocar no nosso chão; e ela leva para um lugar infeliz tudo aquilo. Tudo aquilo. Chove... Há poesia nisso tudo?

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